impermanência

o curso é intensivo. o tempo todo.
muitos dias, falto a aula. muitas outras vezes, até vou à aula, mas escolho não prestar atenção pensando que assim dói menos. tem jeito naum, dói muito mais se faço de conta que nada passa, até quero que as flores das orquídeas fiquem alí, sempre. só se for de mentira, né mãe?!
as de verdade, murcham e passam.

confissões

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achei ali numa gaveta cheia de escritos antigos:
“eu olho pr’aquela lilia-comigo-ninguém-pode e fico meio perplexa
do tanto que eu pensei que era tudo verdade.
e era, mas hoje a verdade muda de nome.
ando vendo tantas certezas se desmanchando feito papelão molhado
lindo e doloroso
tanto dói como alegra
tanto arde como alivia
porque medo desvendado é um bocado de caminho andado
no rumo do sossego.
doida e corajosa de largar o que sustentava…
claro que parece capenga, feels like capenga
mas a verdade (atual) é que é muito mais firme
porque não tá se agarrando em nada
(aquela monja Pema Chodron tem uma imagem forte que é “se agarrar na água”)
e tome medo aflorando
medos que sempre moraram lá dentro…
atrás das sombras que não deixava aparecer
só inventando personagens destemidos e confiantes,
que andavam pra cima e pra baixo com as muletas “invisíveis”,
se achando invencível… e era.
mas essa parte do filme acabou
a tal da meia-idade chegou e o sentido dela fica cada da mais claro
crise – outro filme
sossego não é sol brilhando todo dia
é a serenidade de apreciar a tempestade”
p.s. tirei essa foto e quando fui olhar tinham duas sombras, uia!

recomeço

chegando de volta em casa.
aqui foi minha casa por muito tempo. eu me sentia acolhida e aconchegada por aqui.
mas tive que sair pelo mundo pra compreender as mudanças todas na minha vida.
nem sei se compreendi, mas não tem tem tanta importancia assim.
nesse tempo, uma parte de mim teve que se retirar, entrar em modo pausa, para poder abrir espaço para outras partes se revelarem.
parece que agora é hora de juntar tudo.
seja bem-vindo de volta, vadiando.

4.8

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FELIZ ANO NOVO de novo.
hoje começa meu 48o ano por aqui nesta vida. e eu continuo gostando do “passar do tempo”. até agora as melhorias são muiiiiiiiiiiiiiitoo maiores do que os estragos. é verdade que os cabelos estão mais iluminados; o corpo tá em pleno processo de mudança e boto fé de que já ele se ajusta à nova fase. os processos internos estão bem interessantes e gosto de observar e estudar as impermanências. mas o melhor de tudo é sentir o amor fluindo e transbordando independente das formas externas.
abri meus olhos para as belezas espalhadas ao meu redor e não sobra muito tempo pra brigar com as rugas aos redor deles. elas que se rebolem pra chamar minha atenção porque eu mesminha tou muito ocupada me deliciando com as cores do mundo. e meu desejo de sempre é que eu continue vendo cada vez melhor.
então pronto. deixo aqui minha alegria de viver e um abraço cheio de gratidão.
p.s. copio um trecho de um texto do rubens alves que escreve bem sobre essa coisa do “ver”:
“…William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”…”
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amém!

ondas

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[ cada vez mais fica claro que a vida é isso mesmo, cheia de ondas. elas vem mesmo. e assusta. dá uns choques. não tem como evitar nem recusar né?
parece que o remédio pra dor é a aceitação. porque dói mesmo, mas quando a gente aceita é como se abrisse caminho pra dor passar.
tem um ditado que diz que “tudo que a gente rejeita, cresce”. tenho constatado isso. então, aceitar é a chave que faz a vida fluir ]

dando o ar da graça

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imagem
fortaleza, cidade além de muitos encantos, cheia de afetos
trocentos e tantos dias se passaram e aqui tou de novo, na terra da luz. antes eu dizia que vinha pra “terra do sol que arde” porque o frio já tava ardendo por lá. agora que moro na flórida, a agonia de sentir o calor na pele diminuiu, mas o frenesi de matar as saudades é o mesmo.
ainda não mergulhei nos verdes mares, não comi uma só pata de caranguejo nem caminhei na beira-mar, mas já me lambuzei um bocado com os afetos.
esses trocentos e poucos dias de 2007 foram como é vida é mesmo: uns muito bem-bons demais, outos nem-tanto-assim, mas arregalando um pouco os olhos, olhando de novo, tudo foi bem bom.
é é é, sou prima-irmã-gêmea daquela menina do livro. aliás, já soube que às vezes ela fica é com inveja porque eu, quando tou “acordada” acho que tudo, de um jeito ou de outro, acaba sendo bom. vai ver ela acaba mudando de idéia. se até eu mudei, imagina ela.
dando uma rápida espiada no retrovisor, teve um bocado de movimento: me mudei de annapolis, maryland pra winter park, florida. conheci boston. conheci um pouco do norte e do sul da flórida. revisitei o texas. revisitei calgary no canadá. conheci um belo parque nas montanhas ao norte em montana. passeamos por lá perto no estado de idaho e revisitei san francisco.
com todo esse movimento a rotina nunca que ficou cansada. quando eu tava me aquietando vinha mais movimento e eu gosto muito disso.
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mudar de casa na mesma cidade só tem mesmo o trabalho de fechar e abrir caixas, mas mudar de cidade/estado tem mais coisinhas a fazer e eu só me toquei quando senti na pele que estava passando por isso pela tereira vez: além de ter que aprender a andar na cidade e arredores, descobrir um bom lugar pra fazer ioga, aprender onde compra as coisas todas, achar dentista, ginecologista, os doutores alternativos que uso normalmente, etc
tou reclamando não, de jeito nenhum, mas jurei de pé junto pro meu paul que vamos ficar onde estamos agora pelo menos 3 anos. affe maria, já chega!
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dizem que a única coisa permamente nessa vida são as mudanças, se é assim me sinto vivinha-da-silva, cheia de sol mesmo que caia a maior chuva lá fora 🙂
então é natal!
se com minha vida “normal” eu tenho vindo pouco por aqui, imaginem agora estando de “férias”. então deixo aqui meus desejos, os mesmos que desejo pra mim:
–> olhar de novo pra mesma coisa de jeito diferente;
–> andar sem pressa (diz que a pressa é inimiga da percepção e eu concordei na hora!);
–> lembrar que tudo passa (se não tá passando é porque deve tá segurando!)
–> ohar pro céu de vez em sempre
–> lembrar que a terra tá rodando o tempo todinho
–> entender que tudo que é dois é na verdade um só. (sic!)
–> e que não existe uma verdade e sim níveis diferentes de percepção (e se nao tiver pressa haverá de perceber d’outro jeito)
–> enxergar o lado cheio e rever o conceito de vazio 🙂
–> mas se não quiser nada disso acima, basta se vestir de gratidão e sair por ai segurando na mão da alegria que dá tudo certo de qualquer jeito.
e se quiser um ainda mais, clique aqui e leia o cartão do natal de 2004 que tudo que desejei naquela hora serve pra vida toda 🙂
bom tudo pra nós e inté depois!

liberdade, ano II

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tin tin!
dois anos sem fumaça.
dois anos que tive a maior prova de que o que quero de verdade, eu consigo.
esse é o maior benefício de ter parado de fumar.
claro que tem muitos outros, mas eu sinceramente não sinto “na pele”.
claro que a auto-estima agracede. menos barganha e mais amor.
claro que quem chega perto também agradece pelo cheiro bom.
claro, tou bem feliz por mudar, ser e me sentir melhor.

novas experiências

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depois que eu senti o gosto bom de mudar de idéia, só quero saber de tentar coisas diferentes. pintar as unhas dos pés era a coisa mais impossível de acontecer, mas como a física quântica diz que as possiblidades são infinitas, fui cedendo ao possível lentamente. [tá certo que resolvi fazer isso no país errado, porque as manicures asiáticas, decidamente, não sabem fazer unhas bem feitas. além de não tirar as cutículas direito, pintam mal e porcamente].
em nyc pintei pela primeira vez, mas fui muito infeliz na escolha da cor: olhava para os meus próprios pés e parecia que não eram meus. dois dias depois comprei um vidro de acetona pra acabar com aquela agonia.
depois, muito depois, de vez em quando fazia as unhas mais pelo mimo das massagens (a gente senta numa cadeira de massagem e bota os pés numa mini-jacuzzi. e antes de pintar as unhas, elas dão uma massagem até legal nos pés e nas pernas). depois passei a pintar daquela cor bem clariiiiiiiiiiinha que a gente não sabe se é só base ou se tem um rosa lá longe. e assim semana passada eu criei coragem e taquei o vermelho… … … … … acho que não vai ter de novo naum :-))) fica então o registro para a posteridade!!

brincadeira dos 7

a Letti respondeu e encaminhou a brincadeira. vamos ver o que vai sair aqui.
como sou meio chatinha, vou mudar umas coisinhas. por exemplo a primeira pergunta: “coisas que tenho que fazer antes de morrer”
explico: eu aboli algumas palavras e atitudes da minha vida. e uma delas foi “tenho que…” eu sei, eu sei, você haverá de dizer: “oh besteira, que diferença faz dizer “eu tenho que…” pra “eu quero”.. e eu digo: muuuuuiiiiita diferença. então vamos lá:
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7 coisas que eu quero e vou fazer antes de morrer:
1. conhecer veneza, india, alasca e a mim mesma;
2. ser calma;
3. ser segura;
4. ser avó;
5. continuar jovem;
6. morar numa casa virada pro nascente onde vejo o nascer do sol todo santo dia;
7. ter saúde perfeita.
7 coisas que mais gosto:
1. conversar;
2. comer, beber e alegrar o coração;
3. me enrosacar;
4. viajar, ver novas paisagens;
5. minha casa;
6. almoço de domingo com minha família;
7. encontros com meus amigos;
7 prazeres fúteis:
1.assisitir csi;
2. comprar café na rua;
3. roupas usadas;
4. guardar emails;
5. lavar pedras que cato na rua;
6. dizer que não tem prazeres fúteis;
7. ter prazer fútil
7 coisas que mais digo:
1. ô coisa boa;
2. riegua;
3. eita;
4. tudo é bom;
5. não perguntei não;
6. sei lá…
7. valhaaaaaaa.
7 coisas que faço bem:
1. pedir;
2. falar;
3. curtir a vida;
4. cuidar de quem eu gosto;
5. arrumar guarda-roupa;
6. ser amigo;
7. me amar.
7 coisas que não faço:
1. fofoca;
2. ser afoita no mar;
3. discutir política e religião;
4. me trair;
5. demorar na tristeza;
6. cultivar mágoa;
7. colher material pra depressão.
7 coisas que me encantam:
1. respeito;
2. gentileza;
3. bebês;
4. alegria de viver;
5. outros jeitos para as mesmas coisas;
6. meu filho sorrindo;
7. fé na vida.
7 coisas que odeio
1. com toda sinceridade: eu ando com o firme propósito e decidida a não odiar nada nessa vida. nada. minha maior intenção é o aceitar, principalmente o que eu não gosto 🙂 pois pronto.

4 anos

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vadiando fez 4 anos dias atrás e eu nem tchungas :/
mas pra comemorar vou postar aqui um email que recebi semana passada que me deixou muito feliz e que me faz manter esse blog, nem que seja às custas dos pássaros e das fotos 🙂
“Querida Lilia,
Sou uma leitora silenciosa de seu blog, e foi um prazer muito grande conhecê-lo por acaso. Logo nas primeiras espiadas fiquei encantada, e fiquei um tempão ‘viajando na sua” rsrsrsrsrs.
Um tempo depois disso, chegou às minhas mãos um livro, o qual tinha um texto que eu gostaria de dividir com você. Claro que não sei de toda a sua vida, um blog dá pistas mas não descobre completamente o interior de ninguém, mas esse texto me lembrou na hora de você porque, primeiro, usava como metáfora um esquilo, cuja figura desde criança me comove e eu pude “observá-los mais de perto” através dos seus olhos. Depois, alguma coisa nos seus textos me disse que de alguma forma você agora encontrou de verdade seu lugar na vida, no mundo. Parece assim que viveu a metade de uma vida e viajou a metade do mundo pra poder encontrar sua casa, seu lugar, seu lar, seu amor, numa pátria que não é a sua. Ainda por cima um dia desses vi o filme “vôo 93”, e eu pensava em todo aquele absurdo e como o destino conspirou pra você e seu marido estarem juntos…
Enfim, poucas pessoas me parecem tão à vontade com a vida. O que definitivamente não quer dizer sem problemas, né?
Com carinho, segue o texto.
Mieline

“Todos os dias, observo que um esquilo se sente perfeitamente à vontade num mundo de árvores. Mas imagine retirar aquele esquilo dali e atirá-lo no meio de um deserto. Imediatamente, esse animal maravilhoso ficaria deprimido, ansioso, confuso, completamente perdido. Existem muitos animais que vivem no deserto, mas não é o caso do esquilo.
esquilocomendobirdbath.jpg Não existe nada de errado com aquele esquilo abatido no deserto. Ele é perfeito. Mas ele só é perfeito quando está em casa, num lugar cheio de árvores. Um esquilo num deserto fica infeliz e não se adapta.
Agora, imagine fazer uma coisa absurda: pegar esse esquilo no deserto e levá-lo ao consultório de um terapeuta para ele se sentir melhor. O próprio esquilo diria que isso é tudo bobagem! Você pode até fazer terapia para esquilo eternamente, mas, enquanto ele estiver num deserto, será infeliz. Mas, se você o levar para um lugar com árvores, ele se sentirá em casa e ficará feliz novamente.
Existem muitas pessoas infelizes porque são esquilos no deserto. Elas acham que há algo de errado com elas. Elas vivem tentando se adaptar, mas essa adaptação não funciona. Mesmo assim, elas continuam tentando porque é difícil assumir a falta de adaptação no mundo. Além disso, seria muito simples se elas pudessem entender que não existe nada de errado com as pessoas que elas são, mas sim com onde elas estão. De alguma maneira, de um jeito marcante, elas não se sentem à vontade diante da vida.
Mas elas podem se sentir mais à vontade do que jamais imaginaram. Elas só têm de entender como os eventos à sua volta estão lhes mostrando o caminho de volta para casa. Como é disso que precisam, o universo está fazendo todo o possível para oferecer-lhes.” (Mira Kirshenbaum – O acaso não existe, pág 76)
bem bom né naum?